Há referências históricas de que em 1876, o Padre João Dantas Barbosa inicia a construção da Igreja do Rosário na São Pedro do Uberabinha e no ano de 1891 o Vigário Pio. Dantas incita o negro a participar das festividades religiosas em uma outra Capela erguida na Praça do Rosário, (PEREIRA, 1996,p.30). Em Miraporanga antigo distrito chamado Santa Maria – já existia uma Igreja do Rosário desde 1850. As construções das capelas em homenagem a Nossa Senhora não possuem uma história linear; haviam edificações que os padres levantavam na tentativa de reunir seu rebanho negro já disperso, que, dependendo da localidade escravocrata e da personalidade cultural dos escravizados, poderiam ficar vários anos, em total ociosidade e por fim desmoronar-se. Portanto, empiricamente poderíamos captar esses conflitos e formularmos algumas hipóteses; seria realmente o surgimento de uma Igreja do Rosário em 1850 no antigo distrito de Santa Maria – atual Miraporanga – uma opção voluntária dos negros escravos ou livres? E se fosse apenas mais um engenho espiritual autorizado pelo Papa na expectativa de que seus sinhás cristãos pudessem forçar qualquer tribo de negros a testemunhar uma fé colonial?
Quando o próprio negro erigiu a sua capela ou lapidou a sua gruta entre rochas ele plantou seu ritual de fé. Filho de Orixá ou não, esse escravo reestruturalizou sua alma de humanidade espiritualizada muito antes do primeiro Jesuíta conhecer “poder do fogo.” Diante desses fatos, não seria nada ilógico afirmar que o Congado em Uberlândia possui raízes mais antigas; ele pode ser de 1851, se considerarmos o envolvimento do negro no levantar dessas capelas do Rosário, desde seus nascedouros e assumindo-as ao término da construção. Entretanto, o distanciamento do negro dessas igrejas tornaria os seus rituais de fé desconsiderados historicamente ao não ficarem nas folhas dos livros de tombos da Igreja Católica. Tem-se às vezes a impressão de que o negro saiu da África e caiu no Brasil, desaparecendo no mesmo instante, quase que em passe de mágica. Tratados como seres vencidos, os pesquisadores da região em maioria absoluta, reservam-Ihes alguns parágrafos em suas páginas forjadoras de grandes nomes colonizadores da região.
Na realidade, a história do Triângulo Mineiro / Alto Paranaiba, está congestionada de heróis. São patriarcas filhos do coronelato, os desbravadores com suas espadas abrindo corpos de índios e fazendo as picadas nas matas; ela está repleta de entrepostos comerciais, rota de diamantes, tropeiros de gado e traficantes de ouro.
E os negros unidos aos índios contra esses inimigos comuns? Índios Arachás Cataguás, Kaypós, Goyanazes, Caetés e Tapuyus? Ninguém acreditaria que esses agentes históricos povoaram a cantoria de vários capitães de congada. Ninguém acreditaria que tantos gestos corporais foram herdados desses homens e alguns ainda vivem escondidos em ternos mais distanciados da urbanidade fatal (Video,20/l0/ 1991,Arq:JB).
Encenação que segundo o catupezeiro Ovídio, tinha origem nos tempos de D. João VI no Brasil; os padres temerosos das represálias que poderiam acontecer por parte da coroa portuguesa, tentaram proibir a coroação do Rei Congo e da Rainha Conga. Ovídio dizia: “Aí uns padres com medo do bispo, mandá escondê o Rei e Rainha no meio da mata”. E prosseguia: “E aí os congadero revoltá e pegá uns cavalo pra saí atrás dos Reis”. “E aí quando eles encontrá os Reis no meio da mata, eles fez coroação deles e transformá eles em Rei perpétuo e Rainha perpétua, pra mostrá que eles num iam adorá o Rei de Portugal, que eles já tinham o Rei deles”.
João Brasileiro acrescenta: “lá na cachoeira – município de Serra do Salitre-MG – a gente reunia os cavalos um mês antes da festa começá e deixava eles na invernada. Só no dia da apresentação é que a gente ia buscar os cavalos”. E prossegue: “Ainda hoje essa tradição acontece, mais de jeito simples, que o povo novo não tem a fé que a gente tinha”. João Professor, como é conhecido o entusiasta professor de História de Rio Paranaíba-MG, diz que o Rei Perpétuo – Aristeu – também se escondia no mato e era procurado por uma turma de cavaleiros, que percorriam os campos de Rio Paranaíba- MG.
Cantoria que falava desses tempos de reis em matagais:
Quando Rei branco chegô
o Padrim mandô sumi
nosso Rei nossa Rainha
pra Rei branco nunca vê.
o Rei Congo é nosso Rei
O Rei Congo é nosso Rei
outro Rei queremos não
outro Rei queremos não”
Fonte: BRASILEIRO, Jeremias. Congadas de Minas Gerais. Disponível em: http://www.capoeiravadiacao.org/attachments/309_Congadas%20de%20Minas%20Gerais%20-%20Jeremias%20Brasileiro%20.pdf>. Acessado em: 28 de Novembro de 2012.
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